SÉRIE CRISTÃOS PERSEGUIDOS: SE TIVER DE MORRER, MORREREMOS


Coreia do Norte, agosto de 2012.




Com um rápido movimento, janela e cortinas são fechadas. Três norte-coreanos atravessam a pequena sala, arrastando seus chinelos. Eles passam sob o olhar incisivo dos “grande líderes”, cujos retratos pendem nas paredes. Os três dirigem-se para o quarto. Atentos, procuram ouvir se as crianças estão dormindo no outro cômodo, e se há alguém na rua. Eles se ajoelham. Um suspiro. Suavemente, começam a cantar. A voz emerge do profundo de seu coração. “Graça maravilhosa, quão doce canção...”


Esta é a história da vida secreta de oração dos cristãos norte-coreanos.



QUESTÃO DE VIDA OU MORTE


É uma experiência difícil viajar pela Coreia do Norte e ver o rosto das pessoas. É como estar dentro de um filme sem a possibilidade de interferir no script. As pessoas andam a esmo em estradas que parecem não ter fim e nem levar a algum lugar. Ao lado do rio, outro grupo de pessoas. Umas lavam a roupa, outras procuram por alimento. As árvores estão secas. Muitos norte-coreanos comem a grama mesmo, apenas para ter algo em seu estômago.


Escondidos entre essas pessoas estão os filhos de Deus. Diferente dos outros, eles oram enquanto caminham. E não fazem isso apenas porque não têm nada melhor para fazer. 


Trabalho com refugiados norte-coreanos na China. Posso dizer que a oração na Coreia do Norte é uma questão de vida ou morte. Se um norte-coreano se converte na China, a coisa mais importante que temos para ensinar é como ter um relacionamento com Deus. Quando voltar para casa, ele não pode levar consigo uma Bíblia. Quase metade dos que voltam é presa em algum ponto da viagem. Em todas as situações, eles precisam confiar em Deus. É por isso que a oração é tão importante. Eles aprendem a orar por tudo, especialmente por discernimento. Em quem você pode confiar? O que se pode dizer, e o que não pode?



COMO A RAINHA ESTER


Há uns anos, um ocidental participou de uma reunião de oração secreta de norte-coreanos. Ele contou o que viu: “Os cristãos se ajoelharam e pediram a Deus para perdoar seus ancestrais, que se prostraram perante ídolos japoneses. Eles diziam: ’O povo de Israel foi desobediente e peregrinou no deserto por quarenta anos. Mas nós estamos sendo punidos há mais de sessenta. No entanto, Deus, a culpa é nossa, e não tua’. Eu chorei ao ouvir como eles imploravam a Deus para mudar sua situação. Eles pediam que o Senhor reabrisse as igrejas de seus antepassados.”


As orações dos norte-coreanos, entretanto, mudaram nos últimos anos. Os líderes da Igreja norte-coreana nos dizem que isso se deve graças às orações dos irmãos estrangeiros. “Somos tão encorajados por essas orações que agora oramos como a rainha Ester. Mardoqueu lhe disse que ela havia sido chamada para um momento como aquele (Ester 4.14). E isso se aplica a nós. Fomos chamados para sermos luz de Cristo em um momento como esse, nestas circunstâncias difíceis. Temos experimentado que Deus usa a perseguição para santificar sua Igreja, e somos gratos porque, em nossa fraqueza, recebemos a força dele. Oramos para sermos capazes de fazer a vontade divina em todas as situações. E se tiver de morrer, morreremos.”



UMA VISÃO


Os cristãos norte-coreanos começaram sua própria campanha de oração por seu país. Eles pedem a Deus para continuar a abrir as portas para que o evangelho seja pregado. Soube que um grupo de cristãos recebeu uma visão de Deus de que um dia a Coreia do Norte se reabrirá. Eles dizem: “Então trabalharemos lado a lado com os irmãos sul-coreanos e chineses para evangelizar toda a Ásia. Será uma tarefa difícil. Mas vemos que a atual perseguição na Coreia do Norte é uma preparação para este tempo”.


Vemos então como Deus usa as orações de seus filhos para criar uma música que soa mais alto que o terror e o medo. Os milhões de vozes mal podem ser ouvidas individualmente, mas juntas elas formam um belo coral. Para Deus, essas incontáveis orações são um belo som que não termina. No livro de Apocalipse lemos que cada palavra dirigida a Ele é colocada em um recipiente de ouro – não importa se ela foi proferida em torno de uma mesa de jantar no mundo livre, ou se foi sussurrada atrás de janelas fechadas em algum canto da Coreia do Norte.



Correspondente da Portas Abertas na Coreia do Norte

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